sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Série A Criatura 26/28


A CRIATURA



Nossa Mônada viajora, agora excursionando pelo reino Humano, começou a enveredar-se pelo rumo do ilusório. Na condição de indivíduo deixou-se contrariar pela situação de menor destaque que ocupa na sociedade, revoltando-se com o que ele chama de "sua sorte".
Não compreende que em tudo se inicia pelo simples, passando, mais tarde ao complexo. Não imagina assim, e se deixa arrastar pela frustração revoltosa. Impotente diante dessa ordem evolutiva que o coloca, temporariamente, naquela fase, isto é, na extremidade inicial da condição humana, prefere sucumbir ao esquecimento de que é um espírito, e mergulha na atração do corpo. Afundado em vícios espúrios, é como se encontra quando vai passar ao terceiro degrau.
O PERSEGUIDOR DE RIQUEZAS
Devido aos agravos acumulados quando esteve no segundo degrau, agora, no início desta fase, o indivíduo esbarra com as primeiras dificuldades.
Embora já possa ocupar esse terceiro posto, impulsionado, porém, pelo jugo das ilusões não possui ainda um corpo Mental à altura. Seu intelecto pouco oferece diante dos novos desafios.
Constata que administrar, econômica e independentemente, a própria vida, tal qual desejou, é tarefa das mais difíceis. Todavia, não há como retroagir. Os inexoráveis impulsos ilusórios acumulados em si, o espicaçam na direção de ilusões maiores.
Assim vai, e com um pouco de bom-senso, mas sentindo a incapacidade para adaptar-se ao novo mundo de empresário, começa pelos pequenos negócios.
Com os recursos financeiros que acumulou instala-se num pequeno estabelecimento comercial. Um bar, um bazar, uma mercearia. Estas são as opções ao seu alcance.
Comercializando objetos de pequeno valor vai exercitando o raciocínio sobre o funcionamento do intercâmbio comercial. Aprende da matemática dos lucros e haveres. Esta, aguça-lhe a ambição, e cada vez mais quer aplicar a fórmula lucrativa do entregar menor porção de mercadoria recebendo maior valor em dinheiro.
Até lhe parece uma mágica de resultados ilimitados. Do raciocínio calculista inicial passa à esperteza. Cria artifícios relacionados à qualidade do que vende para auferir maiores lucros. De consciencioso passa a inescrupuloso. Seus olhos se deliciam na volúpia de conferir o montante arrecadado a cada dia.
De alguma forma prospera. Os pequenos negócios deixam de lhe interessar. Suas metas, agora, são de empreendimentos maiores. Sua nova onda de perseguição.
Com o passar do tempo, e ainda vinculado ao terceiro degrau, vamos encontrar aquele incipiente comerciante, agora, um exímio homem de negócios. Empreendedor, empresário, executivo. Um homem que só enxerga números e só existe em função de lucros, não importando se para obtê-los tenha que surrupiar e corromper.
E tanto isso é verdade que toda a riqueza do mundo está nas mãos dos negociadores, ou melhor, dos especuladores. Estes, mesmo não produzindo nada, controlam a movimentação mercadológica em todo o globo, fazendo o jogo das aplicações em Bolsas de Valores. Uma espécie de cassino, onde as apostas são feitas sobre as Ações, (papeis), que representam o capital das empresas. Empresas crescem, ou vão à falência, dependendo dos resultados e interesses dos especuladores que, num simples digitar de senhas, fazem valorizações fantasmas para atrair os incautos. Depois, sem nenhum escrúpulo, retiram o dinheiro criando uma desvalorização, levando a empresa à falência.
Para estes, não importa que seus atos façam milhares de famílias perderem seus sustentos. Sem sair de seus escritórios, fazem o dinheiro circular pelo mundo, buscando quem oferece mais por ele.
Se lhes é incontido o desejo de ganância, essa força, entretanto, já que instalado está na sociedade humana, é também aproveitada pelo Governo Oculto. Da seguinte forma: Os que se encontram no ápice do controle econômico terão que arcar com a incumbência e inquietude de conduzir os que para eles trabalham.
A ganância os fez acumular, agora arcam com o peso de, dando emprego, redistribuir o que ganharam. Estão ricos ? Ilusoriamente, sim. Porém, não podem ter um só momento de paz, já que a cada minuto vivem o pânico de que um possível concorrente possa lhes tomar a posição.
Nesse círculo vicioso caem no desespero do ter mais e, ainda assim, se sentir impelido em ter que distribuir mais, mesmo a contra-gosto.
Ao tentar romper esse círculo vicioso, apelando para um plano de reter mais e distribuir menos, infelicitando aqueles que dele, economicamente, depende, inicia-se seu fracasso, pois descamba para a desqualificação do produto em troca de menor mão de obra.
E mesmo que adote máquinas operatrizes em substituição ao trabalho humano, o desastre não será menor, pois, e esta é a tendência atual no mundo, faltará ao homem da rua, seus ex-operários, recursos para consumir sua produção. Resultado final: Falência do sistema.
Podemos até dizer que o desespero que o trabalho causa é devido à constante dubiedade do estado de consciência do indivíduo involuído. Isto é, as lembranças do passado demonstrando que os esforços de ontem foram bem menores que os de hoje. Claro, tudo era mais simples. A competitividade era menor. A ambição era menor. Então, constata que os esforços de hoje, embora ponham mais lucros em suas mãos, não lhe dão, porém, a paz sonhada.
Mas, como se disse acima, não há como, pacificamente, voltar atrás. O círculo social da ilusão fisgou-o no todo. E´ subir, no conceito bajulador dos homens, ou ser por eles esquecido. Uma escolha difícil e terrível. Que preço altíssimo vai pagar para continuar ocupando a posição "conquistada".
"Assim, o trabalho tornou-se profundamente degradado; do ponto de vista do trabalhador, seu único objetivo é ganhar a vida, enquanto a finalidade exclusiva do empregador é aumentar os lucros".
Quem nos fala assim é o grande analista e pensador da atualidade Fritjof Capra, e o trecho reproduzido consta do livro de sua autoria O Ponto de Mutação, página 223, editado pela Editora Cultrix.
Aqui o citamos porque expressa bem o modo deturpado de pensar no trabalho em que a sociedade enveredou. O trabalho como forma de adestramento espiritual, na Terra, perdeu todo seu sentido. Por isso, perdida nas teias da ilusão, nossa Mônada se deixa carregar de lauréis humanos.
Um triste e frustrante DEVER construiu para si. Alimentar as bocas, das quais, gananciosamente, arrancou os alimentos. Cumpri-lo, porém, vai ficar para outra fase dessa viagem. Por enquanto, submergida no fausto, o que deseja é mais poder. Nesse impulso assoma ao quarto degrau.

O AMBICIOSO DE PODER

Este degrau, espiritualmente falando, é o degrau dos grandes riscos. Nele, quase sempre o indivíduo resvala para profundo abismo cármico. Melhor seria que do terceiro se transpusesse ao quinto degrau. Porém, devido os comprometimentos contraídos naquele, ser-lhe-á inevitável transitar pelo quarto estágio.
Somente uma forte dose de renúncia ajudar-lhe-ia transpor o espaço de agora sem que maiores danos lhe acontecesse. Circunstância dificílima de ser vivida.
Para esta classificação de O Ambicioso do Poder, os elementos que nela mais se enquadram são os que ocupam postos militares, chefes de estado, parlamentares e funcionários públicos graduados.
O único desejo que os estimula na vida é o exercício do poder. Oriundos do terceiro degrau, mas cansados de correr atrás da riqueza, trazem, agora, o sonho do mando. A nova posição que perseguirão, não importa a que custo. Alimenta-lhes muito mais a vaidade de galgarem a hierarquia administrativa do que qualquer outra alternativa, mesmo que mais insinuante.
Isso fica evidente na simples comparação de remunerações salariais. Um general tem o valor de seu soldo inferior ao de um proprietário de magazine. Um presidente da república é muito menos remunerado que um industrial.
Entretanto, nem o proprietário de um magazine e nem o industrial enfeixam em suas mãos poder tão grande quanto aos de um general ou de um presidente da nação. Se o ganho financeiro não lhes é tão sedutor, o poder, todavia, cega-lhes os sentidos. Inelutavelmente entregam-se aos braços desse tirano, no onírico desejo de comando.
Para comprovar o que estamos citando, observem dois acontecimentos que são nítidas demonstrações da volúpia do poder.
Primeiro, Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos da América, discursando em provocação à União Soviética, hoje extinta, dizia que "Apenas um dos nossos submarinos Poseidon (...) transporta um número de ogivas nucleares suficientes para destruir todas as cidades grandes e médias da União Soviética. Nosso poder de coibição é esmagador." Esta citação está na página 232 do livro O Ponto de Mutação de autoria de Fritjof Capra, editado pela Editora Cultrix.
Segundo, o último conflito armado no Oriente Médio, mais precisamente no Iraque. Até então, nenhum homem havia possuído em suas mãos tal soma de poder como o que esteve, e tem estado, ( 2005 ) com George W. Bush, também presidente dos Estados Unidos da América. Em sua vontade estava, e está, a autoridade, e dela dependia, e depende, matar, ou não, quantos queira.
Os dois mandatários acima citados, só não perpetraram seus mandos até as últimas conseqüências porque as "forças da Vida", que podemos chamar de energias equilibrantes, não lhes permitiram consumar a loucura representada pela prepotência humana.
Como vimos nos exemplos citados, o jogo do poder é sedutor, e de seu domínio poucos escapam. Mas como o Ser não está destinado à volúpia, apesar do fausto, das mordomias, das prerrogativas e da bajulação que se vê cercado, chega-lhe o dia do enfado.
Percebe que apesar de toda a roda de "amigos" que o cerca, tudo não passa de hipocrisia, e que para mantê-la, alimentando seu crescente desejo de mando, terá que ir aos extremos da corrupção. E´ o momento em que alguma coisa, misteriosamente oculta, lhe diz que a vida não é só o que ele toca com as mãos. Há, também, o invisível, e que esse invisível possui forças maiores que o maior de seus poderes terrenos. Além disso, forças mais harmônicas que toda a paz que ele consiga construir.
Decepcionado, olha-se por dentro, e pergunta: "Quem sou eu ?" Vê-se tão grande entre os homens, porém, no íntimo, se sente pequeno e desprotegido. Enojado com a falsidade com que é cercado. Não sabe, ele, que aquele círculo de falsos amigos era outro dos recursos de que se serve a Lei do Progresso para levá-lo de volta à casa Paterna.
Desanimado e desiludido com os homens, vencida sua prepotência de mando, curva-se à evidência de que não é nada daquilo que seu espelho refletia. No imo da alma começa a abandonar o desejo de poder. Seus anseios, antes exclusivamente terrenos, voltam-se para os estímulos do invisível.
Depois de cumprida essa árdua, e decepcionante, etapa de alimentar as bocas às quais fez passar fome, volta-se ao DEVER de reeducar a todos que, ao longo de seus mandos, desvirtuou.
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Se, ao que nos lê, é difícil acreditar no comentário acima, basta uma vista de olhos nas biografias de um Getúlio Vargas, ou de um Juscelino Kubtschek de Oliveira. Dois dos nossos grandes presidentes, dois dos nossos grandes abandonados...
O poder é sedutor, dissemos, todavia, efêmero. O saber é laborioso, mas eterno. Nesse passo, nossa viandante Mônada, alquebrada, e de muletas morais, se prepara no departamento de "fisioterapia" cósmica, para voltar à Terra e ingressar, regenerada, no degrau do Amor.

Bibliografia:
Autor Título Editora

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - questões 166 a 196 - 536 a 540 - 614 a 957 - Livraria Allan Kardec Editora
Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo 5 e capítulo 8 item 5/7 - Livraria Allan Kardec Editora
André Luiz/Francisco C. Xavier - Os Mensageiros - página 216 -
André Luiz/Francisco C. Xavier - No Mundo Maior - cap. 03 páginas 45 e 46 / cap. 04 páginas 55 - 58 - 59 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Evolução em Dois mundos - capítulos 01, 03, 04, 05, 12, 16 e 19 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Libertação - páginas 17 - 18 - 60 - 61 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Mecanismos da Mediunidade - capítulos 04 - 10 - 11 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Entre a Terra e o Céu - págs. 54 - 84 - 126 - cap. 21 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Ação e Reação - págs 87 as 97 e capítulo 19 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - E A vida Continua - páginas 69 e 70 - Federação Espírita Brasileira
Annie Besant - A Vida do Homem em Três Mundos - página 62 - Editora Pensamento
Annie Besant - O Poder do Pensamento - Editora Pensamento
Arthur E. Powell - O Corpo Causal e o Ego - Editora Pensamento
Áureo/Hernani T. Santana - Universo e Vida - Federação Espírita Brasileira
Charles W. Leadbeater - O Plano Astral - Editora Pensamento
Charles W. Leadbeater - Compêndio de Teosofia - páginas 13 e 19 - Editora Pensamento
Charles W. Leadbeater - A Mônada - Editora Pensamento
Edgar Armond - Os Exilados da Capela - página 27 - Editora Aliança
Emmanuel/Francisco C. Xavier - A Caminho da Luz - páginas 28, 31 e 32 - Federação Espírita Brasileira
Emmanuel/Francisco C. Xavier - Roteiro - capítulos 4 e 6 - Federação Espírita Brasileira
E. Norman Pearson - O Espaço, o Tempo e o Eu - páginas 71 e 72 - Edição Particular
Fritjof Capra - O Ponto de Mutação - páginas 223 e 232 - Editora Cultrix
Gabriel Delanne - A Reencarnação - Federação Espírita Brasileira
Helena Petrovna Blavatsky - A Doutrina Secreta - Volume I págs: 105-118-145-146-177-257-258-260-266-268-306-308 - Editora Pensamento
Helena Petrovna Blavatsky - A Doutrina Secreta - volume II - páginas 56 e 198 - Editora Pensamento
Helena Petrovna Blavatsky - A Doutrina Secreta - Volume V - páginas 69 e 90 - Editora Pensamento
Hernani Guimarães Andrade - Morte, Renascimento, Evolução - Editora Pensamento
Hernani Guimarães Andrade - Espírito, Perispírito e Alma - Editora Pensamento
Hernani Guimarães Andrade - Psí Quântico - Editora Pensamento
Itzhak Bentov - Á Espreita do Pêndulo Cósmico - Editora Cultrix/Pensamento
J. B. Roustaing - Os Quatro Evangelhos - Federação Espírita Brasileira
Leon Denis - O Problema do Ser do Destino e da Dor - capítulos 01 - 03 - 04 - 13 - 17 0 18 - 20 ao 24 - Federação Espírita Brasileira
Pietro Ubaldi - A Grande Síntese - Livraria Allan Kardec Editora
Ramatis/Hercílio Maes - Mensagens do Astral - Livraria Freitas Bastos

Apostila escrita por
LUIZ ANTONIO BRASIL
Agosto de 1996
Revisão Outubro de 2005